O Culto ao Novo
- Metelo
- 6 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de jan. de 2019
Para pessoas envolvidas no Hobby com certeza o termo não é nenhuma novidade. Para os novatos o Cult of the New - o culto ao novo - é um termo que se refere a tendência de jogadores estarem sempre procurando jogos novos / lançamentos, e deixando os jogos antigos no esquecimento, e sempre preferindo jogar jogos novos a jogos antigos.

Vou ser honesto, eu sou culpado disso. Na verdade muito culpado. No que diz respeito a aquisição de jogos eu sou uma tragédia - só de 2018, tenho mais de 15 jogos na coleção, muitos ainda esperando transporte de Atlanta para o Rio.
Pelo menos eu sempre tento demonstrar algum carinhos aos jogos antigos da minha coleção, e alguns clássicos que não joguei antes que amigos possuem em suas coleções. Essa semana mesma joguei: Outpost (1991), Alien Frontiers (2010), A few Acres of Snow (2011), Vossa Excelência(2018) e Dominant Species (2010). Apenas um jogo na categoria de Novo. Inclusive o Outpost, e mais velho que muito jogador, mas não eu - dura vida de um ancião.
O que nos leva a real questão: Por que isso acontece?
Por mais triste que seja a razão, é fácil entender porque isso ocorre. Primeiro, pela própria natureza humana de colecionar e juntar posses. Essa é uma caracteristica humana, que hoje tem um contra-movimento enorme para reduzir o que é desnecessário de nossa vida, e apenas focarmos nas coisas que permitem chegarmos nossa própria felicidade - o chamado minimalismo. O foco do post não é discutir minimalisto, e suas aplicações, mas eu queria mencionar por achar que isso vai contra dezenas de milhares de anos de evolução em que aprendemos que juntar as coisas ajudam nossa sobrevivência. Na verdade enquanto escrevo este parágrafo, vem a minha cabeça uma das frases mais faladas por meu pai: Quem guardo o que não presta tem quando precisa, o problema é ser organizado para lembrar onde está.
Mas junto a esse impulso natural humano, existe a questão financeira das editoras e designers de jogo, afinal de contas, são poucos os que compram múltiplas cópias de um mesmo jogo, e a penetração do Hobby e consideravelmente baixa - menos de 5% da população e um jogador de boardgame ativo. Portanto, é necessário novos lançamentos, para crescer as vendas, e aumentar o lucro líquido para as partes interessadas.
Até aí, nada de errado, pois são processos naturais do Capitalista. Só que para esse ciclo se, é necessário um trabalho de marketing bem focado para manter os consumidores interessados nos lançamentos, e de alguma forma fazer um gatilho que cause a ativação deste instinto natural de desejarmos coisas novas. Lembre-se, isso não é um problema, apenas um efeito colateral da evolução de nossa espécie.
Juntando essas duas forças trabalhando juntas - marketing e evolução - é natural termos os impulsos a eterna procura por novos jogos.. Infelizmente, a resposta natural que nós temos pode ser uma má resposta e causar perdas emocionais (a sensação de ter feito uma má compra por impulso) e financeira (gastando mais do que sua situação financeira permite), além de afetar relacionamentos com família e amigos.
Ou seja, todo o processo de lançamento de novo jogos, e na verdade qualquer produto novo, é feito para incentivar os consumidores a fazer uma compra por impulso independente da necessidade, benefício, e qualidade do produto sendo lançado. O grande desafio fica por conta dos consumidores se controlarem, e ponderar logicamente como reagir a esse tipo de estratégia.
O que nos leva a questão de o que fazer para não causar problemas para nós mesmos?
No fundo, todos sabemos o que fazer: resistir compras por impulso e fazermos a devida diligência sobre o quanto realmente vamos curtir e efetivamente colocar um potencial jogo novo na mesa. Infelizmente, é muito comum deixarmos o racional de lado, e viramos vítimas de nosso emocional, comprando coisas que não devemos - maldito Greed por USD$8.16 e Immortals por USD$21.37 na Amazon.

O pior de tudo, é que compras de jogos novos, tendem a cair em duas categorias: o jogo não ser bom, e aí bate o ponto de me arrependimento ou, o que é mais comum para mim, chegar a conclusão que um jogo novo aposentou um jogo antigo - alguns exemplos no post dos jogos que aposentaram outros jogos. Existem jogos que entram numa coleção sem substituir outros e são muito bons, mas com o crescimento da coleção, isso se torna um evento bastante raro.
Felizmente, aqui no Brasil existe uma coisa que não existe no USA que ajuda a minimizar o dano financeiro causado por compras por impulso ou a substituição de um jogo antigo na coleção por um jogo novo.
Como reduzir as perdas financeiras feitas pelo culto ao novo?
O mercado de jogos usados no Brasil e muito ativo, e os preços são tais que para quem compra jogos direto no USA, consegue revender sem perdas após testar o jogo.
No USA, o valor de revenda de jogos usados, em geral, é muito baixo. É raro um jogo ser revendido por mais que USD$5.00 a USD$10.00. Claro, que jogos OOP (Out of Print), KS exclusives ou Séries limitadas com poucas cópias feitas tendem a ter valor de revenda alto - dois exemplos: Mega-Civilization e StarCraft + Expansão, que em Inglês estão custando mais de USD$600.00.
Já no Brasil, jogos usados comumente valem mais de 70% do valor original do preço de compra dentro do Brasil. E muito, mas muito comum, os jogos valerem mais que o preço online dos jogos novos no USA - por exemplo, em 2016 resolvi vender meu Eclipse com as expansões todas, e vendi por mais que paguei lá fora.
Isso significa, que nós jogadores, podemos tomar mais riscos com compras de jogos por impulso, pois podemos ter um grau altíssimo de confiança que poderemos recuperar uma fatia significante, se não toda, da grana investida em um jogo que não curtimos ou que não verá mesa frequentemente. Melhor ainda, sabemos que podemos revender os jogos aposentados da nossa coleção por uma fração grande do custo original.
Como eu gostaria de ter tido essa opção no USA, principalmente na hora que mudei para o Rio de Janeira. Na época eu tive de escolher entre por manter vários jogos da minha coleção no porão do que simplesmente vender por uma merreca mínima. Já aqui no Brasil, eu poderia ter vendido tudo, colocar o dinheiro na poupança e no futuro adquiri-los novamente de acordo com a vontade, pois por necessidade com certeza não seria.
A grande dúvida que fica para mim, é por quanto tempo se sustentará esses preços de jogos no mercado usados, pois claramente podemos notar que com o aumento dos lançamentos no mercado brasileiro, os preços de usados estão caindo, e muitos jogos não geram interesse para compra no mercado secundário como faziam a um ano atrás.
Apesar de muitos acharem, nem tudo no USA é melhor do que aqui no Brasil.
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